É comum que associemos a santidade somente àqueles breves momentos em que passamos em estrita oração e contato com Deus. Quando vamos à Missa, rezamos o terço, fazemos uma leitura do Evangelho etc.
No entanto, para os cristãos mais piedosos isso compreende normalmente uma ou duas horas do dia. Ou seja, se temos um dia de 24 horas, será mesmo que a santidade se encontra apenas messa parcela ínfima do nosso dia, que sequer corresponde a um décimo dele?
Não quero com isso minimizar a importância da oração. Longe disso! Fosse esse o caso não falaríamos tanto de oração por aqui. Meu ponto é: não se sustenta uma vida de santidade que não queira a santidade em sua totalidade e se contente com apenas algumas horas.
Pelo contrário, esse tempo que dedicamos diariamente à oração deve irradiar no restante do dia, para que “quer comais, quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus!” (1Cor 10, 31).
É justamente aí que entra o trabalho, realidade que costuma ocupar a maior parte do nosso tempo. Aqui “trabalho” deve ser entendido de modo amplo, não somente como o exercício de uma profissão remunerada, mas toda atividade a que somos obrigados a dedicar certo tempo diariamente em vista de um bem ulterior. Por isso, tratar da santificação do trabalho engloba também os estudantes, voluntários e donas de casa!
Se essa é uma realidade que ocupa boa parte do nosso tempo, santificá-la é da mais alta importância! Não à toa São Josemaria Escrivá, atento a esse fato, dedicou grande parte de sua vida a chamar os fiéis para viverem em santidade essas realidades cotidianas.
Por isso, será ele nosso mestre nesta matéria! O propósito deste artigo será extrair de algumas das principais frases presentes nas obras deste grande santo 5 ensinamentos muito valiosos que nos ajudarão a santificar o nosso trabalho!
1- Cumprir os pequenos deveres
Queres de verdade ser santo? – Cumpre o pequeno dever de cada momento; faz o que deves e está no que fazes. (Caminho, 815)
Essa verdade é essencialmente a mesma notada por Santa Teresinha, que fez dela o centro de sua “Pequena Via” para Deus. Consiste ela em oferecermos a Deus todas aquelas pequenas ações cotidianas, cujo heroísmo não está na grandiosidade de seu exterior, mas na grandeza de alma com que se realiza essa obra.
O trabalho cotidiano está repleto desses pequenos deveres, que parecem num primeiro momento repetitivos, mas que são oportunidades de sempre renovar nosso amor a Deus. Afinal, não é senão por uma repetição de pequenas batidas constantes que um coração permanece vivo e amando.
2- Cumprir o dever com amor
Perguntaste o que é podias oferecer ao Senhor. – Não preciso pensar a minha resposta: as coisas de sempre, mas melhor acabadas, com um arremate de amor, que te leve a pensar mais nEle e menos em ti. (Sulco, 495)
Complementando o ponto anterior, enxergamos aqui um segundo aspecto desse propósito: não basta realizar essas tarefas repetidas. É preciso realizá-las com amor, oferecendo cada uma a Deus.
A caridade que deve preencher nosso coração só se desenvolve com a realização de atos de amor cada vez mais intensos. E que oportunidade não temos no trabalho cotidiano de praticar essa intensidade da caridade em cada um daqueles atos? O trabalho é uma escola de amor!
3- Tenha contigo uma imagem de Nossa Senhora
Coloca na tua mesa de trabalho, no teu quarto, na tua carteira…, uma imagem de Nossa Senhora, e dirige-lhe o olhar ao começares a tua tarefa, enquanto a realizas e ao terminá-la. Ela te alcançará – garanto! – a força necessária para fazeres, da tua ocupação, um diálogo amoroso com Deus. (Sulco, 531)
Para praticarmos essa intensidade, nada melhor que termos conosco uma imagem de nossa Mãe, para quem podemos nos dirigir nos breves intervalos entre uma tarefa e outra para renovar a intenção, pedir seu auxílio e nos inspirar com seu maravilhoso exemplo.
4- Sobrenaturalize suas intenções
Põe um motivo sobrenatural na tua atividade profissional de cada dia, e terás santificado o trabalho. (Caminho, 359)
Falando em intenção, é esse o grande segredo para tornar nossas ações cotidianas em escadas para o céu! Que tenhamos o propósito de não vê-las somente com os olhos humanos, tão inclinados ao tédio, à irritação e à murmuração.
Pelo contrário, que enxerguemos as coisas com um olhar divino, para perceber que cada uma delas é um instrumento que Deus colocou à nossa disposição para amá-lo cada vez mais! Portanto, que nas nossas tarefas cotidianas possamos colocar sempre uma intenção sobrenatural.
Uma intenção sobrenatural pode ser visando à conversão de um conhecido, o oferecimento pelas almas do purgatório, pela expiação dos próprios pecados, para atingir determinada virtude… ou, melhor ainda, por puro e desinteressado desejo de agradar a Deus. E, por que não, todas ao mesmo tempo, para cumulá-la de méritos ainda maiores!
5- Trabalhe com consciência da presença de Deus
Trabalha com alegria, com paz, com presença de Deus. Desta maneira, além disso, realizarás a tua tarefa com bom senso: mesmo que o cansaço te esgote, chegarás ao fim, acabá-la-ás bem…, e as tuas obras agradarão a Deus. (Forja, 744)
Como consequência de tudo isso, estaremos certos como nunca da presença de Deus neste momento, assim como em todos os outros.
É claro, ele sempre estará presente de modo mais claro e ativo no momento de oração que reservamos durante o dia, mas ele também se faz notar em outros momentos, ainda que estejamos ocupados com alguma atividade. Tendo, no entanto, essa intenção sobrenatural e buscando realizar nosso pequeno dever com amor, temos maior notícia da sua Presença.
Que Nossa Senhora e nossa Mãe, Maria Santíssima, e São José, seu Esposo, nos ajudem a santificarmos nosso trabalho assim como a Sagrada Família santificava cada ato de seu dia com a presença do Menino Jesus.
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